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Hipotireoidismo Congênito

Hipotireoidismo (HT) é uma situação clínica que resulta da produção diminuída dos hormônios da glândula Tireóide ou de sua ação inadequada junto às células do organismo. O hipotireoidismo pode se manifestar em qualquer idade, ocorre tanto no sexo feminino quanto no masculino, havendo uma maior frequência no sexo feminino.

Pode ser congênito – quando o Bebê nasce com este problema, ou adquirido, quando surge mais tardiamente.

É sobre o Hipotireoidismo congênito que vamos tratar a seguir.

A Tireóide se localiza na parte anterior e inferior do pescoço, sendo formada por dois lobos e um istmo que os une, lembrando a forma de “uma crescente” no Recém-nascido e lactente, depois, a forma de uma borboleta (Fig1).

Fig. 1- Representação e localização da glândula Tireóide

Pode-se afirmar que todos os tecidos são influenciados pelos hormônios tireoideanos, sendo importantes  reguladores metabólicos, e sua ação necessária para todo o organismo, ao longo da vida. É imprescindível para o crescimento físico e maturação dos sistemas orgânicos, essencial para o desenvolvimento normal do Sistema Nervoso Central, o que já é observado na vida intrauterina. Sua deficiência ou ação inadequada levará a quadros clínicos mais, ou menos graves, dependendo da sua intensidade e idade de sua ocorrência. Processos fundamentais como crescimento, desenvolvimento neuro-psico-motor e intelectual podem ser prejudicados, pois quanto mais jovem o organismo for acometido, pior é a consequência desta disfunção.

O hipotireoidismo é a alteração endócrina mais frequente na infância e adolescência, e, também, a de maior facilidade de tratamento; felizmente, com excelente recuperação, caso o diagnóstico seja feito o mais precoce possível e o tratamento instituído de imediato.

A incidência da forma neonatal (HCN) pode variar de um país para o outro, sendo que em nosso país, ocorre 1 caso em cada 3.000 a 4.000 recém-nascidos vivos.

São várias as anormalidades que podem causar o HCN, tais como tamanho menor da Tireóide (Hipogenesia), localização fora do habitual (Ectopia) e ou sua ausência (Agenesia). Além destas causas, podem ocorrer alterações bioquímicas na produção dos hormônios tireoideanos.

A deficiência da função tireoideana pode variar de leve à falta total, dependendo do tipo de alteração que a glândula apresenta, sendo que a Agenesia de tireóide é a mais grave, sendo deste grupo, a menos frequente.

É uma doença grave, pois, se não diagnosticada e tratada já no 1º mês de vida, deixa sequelas irrecuperáveis principalmente no Sistema Nervoso Central, podendo causar déficit intelectual, e atraso no desenvolvimento neuro-psicomotor. A criança com Hipotireoidismo não firma a cabecinha com 1 mês, não rola com 4 meses, não senta com apoio aos 6 meses, e assim por diante… Na área da comunicação oral e social, passa a maior parte do tempo dormindo, “muito calminha: não chora, nem para mamar”, não “conversa” (com 1 mês de vida, se esperaria, olhar vivo, sons guturais, e, mais tarde, as vocalizações, ….), não sorri socialmente… sendo o crescimento estatural e cefálico também comprometidos. Apresenta constipação intestinal, cabelos finos, quebradiços e secos, entre outros sinais e sintomas. O peso, proporcionalmente, não é afetado – a criança é até “gordinha”.

Felizmente, com o desenvolvimento de técnicas de pesquisa, o diagnóstico de HCN pode ser realizado logo que o Bebê nasce, através do Teste de Triagem Neonatal (teste do pezinho). Podendo ser diagnostico já na 1ª semana de vida, o que possibilita o tratamento imediato, permitindo um crescimento e desenvolvimento neuropsico-motor e intelectual dentro da normalidade (Fig.2).

Fig.2- Teste de Triagem Neonatal.

No entanto, o Hipotireoidismo Congênito (HC) pode se manifestar tardiamente, podendo ocorrer em qualquer época da vida, aumentando sua frequência no pré-escolar e escolar, início da adolescência e adulto jovem, principalmente em mulheres, sendo que aumenta sua incidência principalmente após os 50 anos. Os sinais e sintomas neste período podem ser muito leves, de início insidioso, e muito variados, de tal forma que não chamam a atenção dos pais e podem ser confundidos:

1) diminuição da velocidade de crescimento (a criança não cresce o que era esperado);

2) aumento da necessidade de sono;

3) desânimo, muitas vezes, ambos os sintomas confundidos com preguiça ou depressão;

4) mudança de comportamento;

5) irritabilidade menos frequente,

6) anemia;

7) Colesterol total elevado, entre outros.

Além do Hipotireoidismo congênito, outras causas podem levar à deficiência tireoideana, o Hipotireoidismo adquirido, devido a deficiência de Iodo, irradiação, e Tireoidite de Hashimoto.

Outras doenças podem também cursar com alterações da função tireoideana, como diabetes mellitus, fibrose cística, doença celíaca e insuficiência renal crônica.

É importante que os pais ou responsáveis fiquem atentos ao crescimento e desenvolvimento de suas crianças e adolescentes, que devem ser acompanhados pelo Pediatra, rotineiramente, mesmo que não apresentem nenhuma doença. Caso seja detectada alguma alteração, o Pediatra encaminhará para avaliação especializada pelo Endocrinologista.

É fundamental que todos os Recém-nascidos se submetam ao teste de Triagem Neonatal, pois antes de sua implantação só se suspeitava quando o quadro clínico já era exuberante e as sequelas neurológicas irreversíveis.

Observação: O Teste do pezinho, pelo Sistema Único de Saúde do Rio Grande do Sul (SUS) pesquisa 4 patologias: Hipotireoidismo congênito, Fenilcetonúria, Anemia falciforme e em 2015, foi acrescentada a pesquisa da Hiperplasia Adrenal.

* Pediatra e Endocrinologista Pediátrica.

Referências:

BRASIL, Ministério da Saúde.

Imagens: Acervo pessoal e domínio público.