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Desmistificando a Vitamina D

Na última década tem havido um  aumento do interesse no meio científico em relação à Vitamina D e foi verificado, através de pesquisas em várias populações de diferentes etnias e diferentes faixas etárias que, mundialmente, os níveis sanguíneos dessa Vitamina  estão, na grande maioria, abaixo dos níveis considerados dentro da normalidade1. Sendo que a Hipovitaminose D – como é chamado o estado no qual a pessoa apresenta níveis baixos – chega a 90%, em crianças, adolescentes, adultos e idosos. E no Brasil não é diferente, dependendo da região, o percentual de pessoas com deficiência ou insuficiência atinge estes mesmos valores. Fazendo com que atualmente, este seja considerado um problema de saúde pública.1

O que é Vitamina D?

A Vitamina D não é simplesmente uma vitamina, mas um pré-hormônio que, juntamente com o Paratormônio (hormônio produzido pelas Glândulas Paratireoides) regula o equilíbrio entre o cálcio e o metabolismo ósseo 1; desencadeando uma complexa sequencia  de reações químicas envolvidas nos processos de transformações e reações de variadas funções no organismo do ser humano em todas as fases de sua vida, constituindo  “Um sistema endocrinológico”2.

Qual o seu papel ou função?

A função mais conhecida da Vitamina D é a de reguladora do Metabolismo e Saúde ósseos, participando da absorção intestinal do Cálcio, função muscular, regulando o Hormônio das Paratireoides e o funcionamento das células ósseas.  Sua deficiência na infância pode levar ao raquitismo e atraso no crescimento estatural, e, no adulto, ocorrem doenças que levam à perda óssea, mais rápida do que o habitual, fraqueza muscular, levando a um maior risco de quedas e consequentes fraturas.

Qual a fonte  da Vitamina D?

A Vitamina D não é como a Vitamina C, B ou outras que se encontram em maior ou menor quantidade nas frutas, hortaliças, e em outros alimentos suprindo as necessidades humanas. Sua principal fonte, para a maioria das pessoas, é através  da sua elaboração pelo próprio organismo – A síntese cutânea representa (90%), enquanto, apenas 10% pela alimentação3.

Na natureza, são poucos os alimentos que a contêm em quantidades suficientes. Entre aqueles com maiores níveis estão: o óleo de fígado de bacalhau, os peixes gordurosos: tais como salmão, atum, cavala e sardinha; também a gema de ovo e cogumelos. Produtos que, sua maioria, não fazem parte da alimentação tipicamente brasileira.

Como nosso organismo resolve este problema?

A vitamina D, no organismo humano, tem que ser “fabricada”. Pela exposição solar a pele é estimulada – com a ação dos Raios Ultravioleta, que acionam seus precursores, desencadeando uma série  de reações químicas “uma cascata de reações”.   Ao longo do processo, novas substâncias (ou subprodutos) são formados, passando pelo fígado onde ocorre a formação da 25 Hidroxivitamina D (25(OH) Vitamina D), que é  transportada para os rins, onde ocorre a conversão no metabólito mais ativo (1,25(OH)2D3) que é responsável pela absorção do Cálcio pelo intestino.

Por isso os Pediatras já prescrevem a Vitamina D até um ou dois anos de idade para todos os Bebês, na forma de gotas e também orientam o banho de sol o qual deve ser até as 10:00h  ou após as 16:00 h (horário solar). É importante lembrar que o sol deve ser direto, não deve ser através de vidro.

Como saber os níveis da Vitamina D?

O melhor  indicador para verificar como está a vitamina D, é dosar a 25 Hidroxivitamina D (25(OH) Vitamina D) no sangue.

Quando dosar Vitamina D?

Deve ser dosada em crianças, jovens,  adultos, idosos, que apresentem algum fator de risco da falta de Vitamina D, ou que apresentem alguma doença debilitante. Este exame é solicitado pelo médico.

São considerados fatores de risco:

  • crianças com raquitismo, osteomalácia,  ou que apresentem diminuição da velocidade de crescimento;
  • adultos portadores de osteoporose, história de fraturas, idosos que apresentem quedas frequentes e/ou fraturas;
  • mulheres na menopausa;
  • obesos de qualquer idade;
  • pacientes após cirurgia bariátrica;
  • pessoas de todas as idades que tenham uma doença crônica, ou em uso de medicamentos que interfiram no metabolismo da Vit. D, entre outros;
  • fazem parte também do grupo de risco as pessoas saudáveis que moram em regiões onde, em grande parte do ano, o tempo é nublado, sendo poucos os dias ensolarados (como ocorre na região sul do Brasil);
  • também aquelas pessoas que mesmo havendo sol, não se expõem, por ficarem a maior parte do tempo dentro de casa, escola, ginásios fechados , principalmente crianças.

Quais os valores desejáveis para garantir a saúde óssea?

É desejável valores de 25(OH) Vitamina D acima de 30ng/ml. Dessa forma valores abaixo de 20ng/ml são classificados como deficiência, entre 20 e 29 ng/ml como insuficiência e entre 30 e 100ng/ml como suficiência. Sendo que vários estudos apontam que de 40 a 50ng/ml, já estão associados à boa saúde óssea. Cabe observar que acima de 100ng/ml é caracterizado o quadro de Hipervitaminose D, que também é prejudicial.

Se diagnosticada a Hipovitaminose D, a medicação será prescrita pelo médico  que vai calcular  a dose adequada individualmente.

Não se deve tomar a Vitamina D sem a prescrição médica, pois se a pessoa não apresenta a deficiência, ou, mesmo tendo, tomar doses excessivas para o seu caso,  poderá prejudicar sua saúde, causando excesso de cálcio no sangue (Hipercalcemia) e suas consequências, vômitos, cálculo renal, além de outras complicações.

Estudos atuais,  evidenciam que a 1,25(OH)2D participa, “direta ou indiretamente do controle de funções essenciais à manutenção do equilíbrio geral do organismo, tais como crescimento, diferenciação celular, regulação dos sistemas imunológico, cardiovascular e musculoesquelético, e no metabolismo da insulina” 1. Havendo vários estudos relacionando a função da Vit. D com eventos em outros órgãos ou sistemas, além da saúde óssea:

  1. Diabetes Tipo 1 (mais comum em crianças, adolescentes e adultos jovens, que necessitam do uso de Insulina) e Tipo 2  (mais comum em adultos obesos ou não, e que pode ser controlada muitas vezes só com medicação oral).   Há um grande número de estudos, tanto em animais quanto em pessoas, com fortes evidências que a Vit. D tem, realmente, uma função protetora, tanto na prevenção, quanto no tratamento deste distúrbio do metabolismo dos Carboidratos tão frequente população em geral.
  2. Nas doenças ou eventos extra-esqueléticos, nomeados a seguir, conforme as recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, apesar de haver numerosas pesquisas observacionais, relacionando à deficiência de Vitamina D, ainda não há comprovação científica para afirmar a relação causa-efeito. Sendo ainda assunto controverso.

São eles:

Sistema circulatório: mortalidade cardiovascular, função cardíaca, hipertensão; câncer; doenças autoimunes (doenças em que próprio organismo  se desorienta e começa a criar anticorpos contra si, como por exemplo a Tireoidite autoimune); função cognitiva e função física em idosos (capacidade de assimilar novos conhecimentos, diminuição da mobilidade, perda da força muscular) aumentando o risco de quedas e fraturas  outros.

Concluindo

1) O médico deve solicitar a dosagem da 25(OH) Vitamina D para as pessoas de risco,  e  prescrever a medicação, preventivamente, segundo suas necessidades, ou prescrever doses maiores se constatada a deficiência de Vit. D;

2) Não se deve tomar Vit. D, se não prescrita pelo Médico, pois, se não houver necessidade ocorrerão problemas graves, como cálculo renal e outros.

Pelas pesquisas realizadas pode-se concluir que os níveis de Vit. D são bastante dependentes de fatores como estilo de vida e fatores ambientais, principalmente à exposição aos Raios Ultravioleta. Sendo um problema mundial  e medidas preventivas devem  ser tomadas.

Referências bibliográficas:

MAEDA, S.S. et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) para o diagnóstico e tratamento da hipovitaminose D. Arq Bras Endocrinol Metab. São Paulo. 2014;58(5):411-33.
CASTRO, LCG. O Sistema endocrinológico Vitamina D. Arq Bras Endocrinol Metab. São Paulo. 2011;55(8):566-75.
Curso de Aprimoramento em Nutrologia Pediátrica – CANP. Deficiência de micronutrientes: ferro, zinco, vitaminas A e D. Sociedade Brasileira de Pediatria. Porto Alegre. 2016.
Figura 1 -fonte: www.paulthomasmd.com, acesso 07-09-2016;
Figura 2 – fonte: www.ramb.elsevier.es, acesso 07-09-2016;
Figura 3 – fonte: www.oleoo.com.br, acesso 07-09-2016;
Figura 4 – fonte: www.contemporaypediatrics.modernmedicine.com, acesso 07-09-2016;