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Desenvolvimento Neuro-Psicomotor de 0 a 5 Anos de Idade

O crescimento pôndero-estatural origina trocas sucessivas nas estruturas e transformações estreitamente correlacionadas às suas funções, de tal forma  que à medida que vai havendo a multiplicação celular e aumento em volume, paralelamente vai ocorrendo a maturação, a diferenciação e aquisição de funções.

Desenvolvimento Neuro-Psico-Motor  (DNPM) é o conjunto de fenômenos que concorrem para que o indivíduo seja capaz de realizar funções cada vez mais complexas1.

Gesell1, um dos pioneiros no estudo do DNPM, verificou que este pode ser demonstrado pela forma como o indivíduo se comporta, sendo que denominou a “maneira de ser” da pessoa de comportamento ou conduta. Comportamento ou conduta são termos que se referem a todas as reações, sejam estas reflexas, voluntárias, espontâneas ou aprendidas. Assim como o corpo cresce, a conduta evolui, é um processo contínuo. Inicia-se na concepção e segue uma sucessão ordenada, etapa por etapa, representando cada uma delas um grau ou nível de amadurecimento. À medida que o sistema nervoso se modifica sob a ação do crescimento, a conduta se diferencia e muda.

O desenvolvimento do comportamento depende do amadurecimento do Sistema Nervoso, porém também é influenciado por uma troca recíproca de fatores intrínsecos e ambiente que afetam a criança. A constituição genética do indivíduo e suas experiências intra e extra-uterina iniciais afetam o seu crescimento físico, intelectual e emocional e isto, por sua vez, determinará sua reação favorável ou desfavorável às posteriores modificações do ambiente. Exemplo: uma desnutrição grave no primeiro ano de vida pode seguir-se de um atraso permanente do crescimento pôndero-estatural, bem como atraso do DNPM, capacidade intelectual rebaixada e por sua vez será responsável por problemas sociais.

Outro exemplo: otites freqüentes que podem levar à diminuição da acuidade auditiva que poderá ser responsável por dificuldade na linguagem que levará a alterações na esfera social.

CARACTERÍSTICAS

Existem leis de continuidade e amadurecimento que explicam semelhanças gerais e as tendências básicas do desenvolvimento infantil, porém, não há dois meninos que cresçam e se desenvolvam exatamente da mesma maneira.

Cada criança tem um ritmo e um estilo de crescimento tão característico de sua individualidade como sua fisionomia. A organização da conduta começa muito antes do nascimento e a direção geral vai da cabeça aos pés e dos seguimentos proximais aos distais, isto é, céfalo-caudal e próximo-distal. Inicia-se com os lábios e a língua, seguem os músculos oculares, depois a nuca, os ombros, braços, mãos, dedos, tronco pernas e pés. O desenvolvimento é regular, segue uma seqüência nas etapas: a criança balbucia antes de pronunciar palavras, diz palavras isoladas antes que faça frases simples, etc… Senta antes de ficar de pé, fica em pé antes de caminhar…

Existe uma correlação com o sistema orgânico. Do ponto de vista biológico, não se pode separar, com precisão, as manifestações orgânicas ou mentais do desenvolvimento, por conseguinte, o estado de desenvolvimento deve ser avaliado não só por sinais físicos, mas também através de sinais dinâmicos, pelo modo de reação e modo de conduta. A conduta é de fato a mais integrada e totalizadora expressão do desenvolvimento1.

Do ponto de vista de descrição sistemática, Gesell definiu, arbitrariamente, 4 campos ou área de conduta:

CONDUTA MOTORA – Considera-se tanto movimentos corporais amplos quanto os de coordenação final: reações posturais (sustentação da cabeça, sentar-se, deambular, a forma de se aproximar de um objeto,  de tocá-lo, manejá-lo, etc…).

CONDUTA ADAPTATIVA – Entende-se o tipo de comportamento que se evidencia quando a criança tem que resolver problemas, refere-se às mais delicadas adaptações sensórias motoras ante um objeto ou situações. Por exemplo, a coordenação de movimentos oculares e manuais para alcançar e manipular objetos, a habilidade para utilizar adequadamente a capacidade motora na solução de problemas práticos aos quais é submetida.

CONDUTA DA LINGUAGEM – Linguagem no seu sentido mais amplo, incluindo toda forma de comunicação visível e audível, como gestos, movimentos posturais, vocalizações, etc… Inclui também a imitação e a compreensão do que expressam outras pessoas.

CONDUTA PESSOAL SOCIAL – Compreende as reações pessoais da criança ante a cultura social do meio em que vive. Estas reações são tão múltiplas e variáveis, tão dependentes do ambiente que pareciam fora do diagnóstico evolutivo, mas aqui, como nos outros campos, observou-se que a evolução da conduta é determinada, fundamentalmente, por fatores intrínsecos do crescimento. Exemplo: o controle da micção e da defecação. São exigências do meio, porém sua aquisição depende primariamente do amadurecimento do neuro-motor.

RECÉM-NASCIDO

Na posição supina, o recém-nascido pode realizar consideráveis atividades rotatórias da cabeça, no entanto, a posição predominante da cabeça é voltada para o lado. Esta posição provoca o reflexo tônico-cervical (RTC).

Tanto os membros superiores quanto os inferiores estão em flexão. As mãos mantêm-se, a maior parte do tempo, fechadas, só se abrindo quando a criança está dormindo ou quando é surpreendida por ruído forte, ou a mudança brusca de posição, ocasião que percebemos o reflexo de Moro.

A percepção e a fixação ocular são vagas e a persecução é fugaz. Parece perceber objetos volumosos, luminosos, móveis ou que tenha nítidos contornos e que estejam em sua linha de visão.

Os chamados reflexos orais compreendem os reflexos da busca, sucção e deglutição e têm  como finalidade comum possibilitar o ato alimentar. Assim, a fome facilita a obtenção de respostas positivas. Estão presentes desde o nascimento mesmo nos prematuros.

Com o recém-nascido suspenso e ereto, podemos provocar o reflexo da marcha.

Na posição prona, a rotação cefálica é imediata, é o reflexo de fuga à asfixia.

A criança expressa suas emoções através de sutis variações do tono muscular. Passa a maior parte do tempo dormindo. Sono este que é interrompido por momentos de vigília e de choro.

2 MESES

No 2º mês a criança torna-se mais ativa, vai deixando progressivamente sua posição de esgrimista (RTC) e sua hipertonicidade vai diminuindo, dando lugar a uma postura mais tranquila, o reflexo da marcha vai enfraquecendo. Está se preparando para as próximas aquisições, as mãozinhas ainda em flexão, mas menos tensas, pode levar uma à boca para inspecioná-la (senti-la); na 5ª semana de vida, sua visão, antes errática imobiliza-se e olha para o ambiente que o cerca, seu campo visual vai progressivamente aumentando, é capaz de acompanhar um objeto em movimento por 90º, por exemplo a mãe, ou o examinador.

3 MESES

O lactente de 3 meses apresenta cabeça predominante voltada para um lado e ainda matém o reflexo tônico cervical. As mãos estão em flexão ou relaxadas. Os membros inferiores ligeiramente levantados em flexão ou extensão. A fisionomia é vivaz. O olhar é direto. Olha prontamente par a linha média. Segue um objeto em movimento por 180 graus. Apreende objetos com facilidade, e os sustém ativamente. Observa-o e, logo o solta.

Em resposta à campainha, sua atividade diminui e apresenta uma resposta facial.

Segue como olhar pessoas em movimento e se alegra quando uma pessoa se aproxima. Em seus agradáveis momentos de solidão, emite vocalizações e gorjeios.

Em posição prona firma a cabeça e descansa o antebraço em flexão.

6 MESES

Aos 6 meses, na posição supina eleva os membros inferiores e sua curiosidade se concentra nos pés, a mão tarda em apanhá-los.

Rola na posição supina.

Senta com auxílio.

Sentada, o tronco matem-se ereto; pode ficar sentada com ajuda por 30 minutos.

Na posição ortostática matém seu peso, quando segurado pelo tronco – é o início do apoio e retificação voluntária.

Apresenta apreensão palmar, pega objetos, leva à oca.

A vocalização é mais rica, já é possível estabelecer comunicação verbal. Alegra-se com o diálogo, responde aos estímulos verbais, principalmente quando é incitado face a face.

Gosta de brincadeiras corporais manifestando por alegres gargalhadas.

Distingue estranho.

9 MESES

Em decúbito dorsal tenta sentar-se erguendo a cabeça e parte superior do tórax.

Sentado fica firme por mais de 10 minutos. Mantém seu peso, apoiando-se na grade do berço ou cercado. Ensaia os sons linguodentais, ta-tá-tá, dá-dá-dá,…

Quando chora, emite sílabas tais como mãmãmã, papapa (labiais).

12 MESES

Em decúbito dorsal a criança passa facilmente à posição sentada, alcança objetos inclinando-se para frente.

Em posição ortostática, apóia-se a grade do berço ou do cercado. Caminha apoiada. Caminha sustentada por uma mão. Dá os primeiros passos sozinha.

Nessa idade, vai adquirindo as noções espaciais que ajudam a situar-se no mundo. Sentada, fica ereta sem ajuda à frente da mesa.

O indicador se aperfeiçoa e se prepara para sua função fundamental na pinça superior, aponta tudo, toca, explora e finalmente utiliza o polegar e o indicador estendidos e apanha precisamente objetos pequenos.

Diz uma duas palavras significativas, imita sons.

Bate palmas, dá tchau.

18 MESES

Caminha sozinha, raramente cai. Senta-se sozinha em cadeira baixa. Vira atentamente as páginas de um livro e observa atentamente os desenhos. Responde às perguntas do examinador dizendo o que é, ou mostrando quando solicitado. Em geral volta às páginas anteriores.

Risca espontaneamente.

Constrói torres de 2 ou 3 cubos.

Diz 6 a 10 palavras.

Desce ou sobe escadas apoiada por uma mão. Sobe em cadeira alta.

24 MESES

A criança de 2 anos corre bem, e não cai.

Sobe e desce escadas sozinha, segurando-se no corrimão.

Constrói torre de 6 ou 7 cubos.

Diante de um livro ou revista volta as páginas, uma a uma. Nomeia 3 ou mais desenhos. Imita traços circulares.

No tabuleiro, coloca blocos isolados. Após rotação de 180 graus, consegue inserir os blocos somente na terceira ou quarta tentativa.

Tem vocabulário de mais ou menos 20 palavras, combina 2 ou 3 palavras espontaneamente.

Refere-se a si mesma pelo nome.

Compreende e pergunta por “outro”.

Gosta de jogar, é capaz de chutar ou atirar.

3 ANOS

Emprega orações, usa apalavra como instrumento de pensamento. Tendência a compreender seu ambiente. É capaz de atender a duas ordens emitidas sem gestos, envolvendo “sobre”, “embaixo de”, “atrás de”.

Consegue construir torres com 9 blocos.

Sabe seu primeiro nome.

É capaz de copiar um círculo.

4 ANOS

Formula perguntas. Percebe analogias.

Emprega adequadamente o verbo no tempo passado.

É capaz de copiar uma cruz.

5 ANOS

Bom controle motor. Salta e brinca.

Fala sem articulação infantil. Pode narrar um conto.

Prefere brincar com companheiros.

É capaz de executar 3 ordens, emitidas sequencialmente.

É capaz de copiar um quadro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Gesell A. e Amatruda C. Diagnóstico del desarrollo. Editora Paidos. Buenos Aires. Segunda Edição.
Gesell e Amatruda Psicologia do Desenvolvimento do Lactente e Criança Pequena. Editora Atheneu, São Paulo, 2002.
Flehming I. Desenvolvimento Normal e seus Desvios no Lactente. Livraria Ateneu. São Paulo. 1987.