A Alta Estatura (AE) é usualmente definida como altura superior a 2DP (2 Desvios-padrão) acima da média ou acima do Percentil 90, o que é observado ao se colocar a medida da altura da criança ou adolescente no gráfico de Estatura e Peso (Gráfico1) usado mundialmente.
Gráfico 1 – Estatura e Peso
Outra definição para Alta Estatura é quando a criança ou adolescente não apresenta altura maior que o Percentil 90, porém está a 2 DP acima da Altura-média dos pais (média da altura dos pais corrigida para o sexo + 7 a 10) Gráfico 2.
Gráfico 2 – Estatura e Peso
Os gráficos recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC) e American Academy of Pediatrics são os da OMS para crianças até 2 anos de idade, e os do CDC para crianças maiores de 2 anos até os 19 anos.
Características do crescimento
O crescimento do ser humano é um processo complexo, dinâmico e heterogêneo, resulta da interação de fatores genéticos e ambientais, sendo particulares de cada etapa, caracterizando a vida fetal, lactente, pré-escolar, escolar e fase puberal.
O crescimento não é idêntico para todas as pessoas que que têm a mesma altura final, havendo três tipos: o “avanço constitucional do crescimento e puberdade”; “crescimento e maturação na média”, e “atraso constitucional do crescimento e puberdade” (Figura 1).
A estatura ao nascimento não tem relação com a estatura final do indivíduo. Em torno dos 3 anos (2 a 4) de idade, a criança atinge seu canal genético de crescimento, havendo “catch-up” (ex: criança nascida pequena para a idade gestacional cuja herança genética é para ser mais alta) ou “catch-down” (criança que nasceu grande, mas que geneticamente deverá ser menor). Pode-se dizer que a criança “busca” seu canal genético de crescimento.
Após este período, dos 3 anos até até o início da puberdade (pré-escolar e escolar), a criança deverá seguir seu canal de crescimento (ou curva), mantendo o mesmo ganho em cm por ano (velocidade de crescimento: VC/ano ). A VC no escolar varia de 5 a 7 cm/ano, média anual é 6 cm.
A aceleração ou uma desaceleração do crescimento nesta fase sinaliza que está ocorrendo algum problema: a criança que mudar para a linha superior ou inferior (cruzar as linhas do gráfico) deverá ser investigada.
A Menina, quando começa apresentar seus primeiros sinais pubertários (8 anos a 12 anos), tem aumentada a sua velocidade de crescimento (estirão de crescimento). Já o Menino entra em puberdade, cronologicamente mais tarde – dos 10 aos 14 anos, e, somente 2 anos mais tarde, é que vai apresentar o estirão.
A preocupação dos pais ou do pediatra com Alta Estatura(AE) é bem menos comum do que o inverso: a Baixa estatura (BE), embora ambas apresentem a mesma frequência na população em geral, pois seguem a distribuição segundo a Curva de Gauss, conforme sexo, idade e origem étnica (Figura 2). Em geral, é o Pediatra que identifica e encaminha para o Endocrinologista Pediátrico para investigação.
Embora a AE, entre os meninos seja socialmente bem aceita, isso não acontece com meninas mais altas que suas colegas, constituindo-se um problema, principalmente se tem mulheres muito altas na família. A AE sempre deve ser investigada, sendo os diagnósticos de Alta Estatura familiar e Alta Estatura constitucional (avanço constitucional do crescimento e puberdade) diagnósticos de exclusão. A AE, muitas vezes, é secundária a uma doença grave e que exige tratamento, ou faz parte do quadro clínico de doenças que apresenta intercorrências que poderão ser letais, como as doenças genéticas.
Todas as crianças devem ser medidas e pesadas, no primeiro ano de vida mensalmente; no segundo ano de 3 em 3 meses e, depois, no mínimo 2 vezes/ano, até o final da puberdade. Desta forma é possível detectar precocemente qualquer alteração, o que possibilita ser investigada e tratada a tempo. Toda a criança que tiver seu crescimento acelerado (VC acelerada), ou apresentar estatura acima do P 90 ou 2DP acima da média para sua idade e sexo, ou ainda 2 DP acima do Altura-Alvo deverá ser investigada para AE (Gráfico 1). Sendo que o inverso: VC menor que o esperado leva à BE que deverá ser também investigada.
Causas de alterações do crescimento que podem levar à Alta Estatura:
- A hiperalimentação é uma das causas do crescimento excessivo e que leva à maturação óssea acelerada, e também à maturação sexual mais cedo.
- Alterações Endócrino- metabólicas:
- Obesidade;
- Excesso de Hormônio de Crescimento;
- Alterações na ação dos Hormônios sexuais: Puberdade Precoce, Tumores Hipotálamo-hipofisários, Alterações das glândulas Supra-renais (Defeitos enzimáticos, bastante comuns) e Tumores das Supra-renais.
Todas estas situações, mais o Avanço constitucional do crescimento, se caracterizam por uma Alta Estatura na infância e Baixa Estatura quando adulto.
- Alterações
genéticas:
- Proporcionais: Síndrome do X Frágil, S. Weaver.
- Desproporcionais: S. Beckwith- Wiedmann, Homocistinúria, Síndrome de Marfan, Síndrome de Klinefelter, Síndrome de Sotos e outras.
Conluindo, 5% das pessoas saudáveis crescem acima do limite superior da curva de crescimento e têm o diagnóstico de AE familiar e AE constitucional (ou avanço constitucional do crescimento), sendo ambas diagnósticos de exclusão.
Referências bibliográficas:
ALVES, CAD- Endocrinologia Pediátrica .1ª ed. Editora Manole. São Paulo.2019
DAVIES,J.H. and Cladeetham, T. Investigation and Management of Tall Stature. In Arch Dis Child, 2014.99:772-777.
JORGE,A.A.L ,Albuquerque,E.V.A,Scalco,R.C. Diagnostic and therapeutic approach of tal stature. European Jour